02/09/2019
Minas é o terceiro maior exportador de ração do país
Produtos mais elaborados e com maior valor agregado são a meta dos fabricantes de alimentação animal do Brasil, que avançam em tecnologia e conquistam mercados
Nos últimos três anos, a exportação mineira de rações para animais vem apresentando contínuo crescimento, segundo o Ministério da Economia, Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). Em 2018, o valor registrado com as vendas externas somou US$ 60 milhões, ficando o estado na 3ª posição do ranking nacional das exportações em 2018, respondendo por 22% das vendas de ração para animais.
Foram embarcadas 73 mil toneladas e o preço médio praticado foi de US$ 815 por tonelada. A Tailândia foi o principal destino, com US$ 8,34 milhões (13,9%), seguida do Uruguai, com US$ 7,53 milhões (12,6%), e Taiwan, US$ 6,16 milhões (10,3%).
A Associação das Indústrias de Alimentação Animal da América Latina e Caribe (FedLatina) enxerga uma oportunidade no setor graças à participação regional de produtos como carnes bovina, de frango e suína. Segundo o presidente da entidade, Pablo Azpiroz, “o mercado latino-americano tem registrado maior participação na produção mundial em consequência dos problemas sanitários que estão ocorrendo na Ásia. Além disso, o resultado do consumo interno está mais estável ou com crescimento em alguns países do bloco. O consumidor também está em busca de carnes e produtos derivados da pecuária de melhor qualidade e cada vez mais acessíveis”, afirma.
A FedLatina promoveu workshop em São Paulo, na semana passada, com produtores de alimentos para animais na América Latina, quando discutiram desafios no que se refere à quantidade e qualidade dos produtos exportados, visando conseguir melhores resultados econômicos e regulatórios, de forma a facilitar e fomentar a importação e exportação, não só entre os países do bloco, mas também de outros continentes. A região foi responsável pela produção de 163,3 milhões de toneladas no ano passado, representando 15% de tudo que se produziu no mundo. A expectativa é de crescimento em torno de 2,5% neste ano.
Segundo a associação, que conta com o apoio de outras entidades do setor, como o Sindirações, no Brasil, a Conafab, no México, a Caena, na Argentina, e a Audina, no Uruguai, a produção total de alimentos para animais em 2018 na região registrou incremento de 2,32% em relação a 2017. “Conseguimos bons resultados no ano anterior, por isso, nossa expectativa para este ano é de crescimento constante”, comenta Azpiroz. O registro contou com dados que contemplam um total de 19 países, distribuídos na América do Sul, América Central, Caribe e México.
Desde 2009, o setor tem vivenciado aumento significativo na região. No ano passado, o setor avícola deteve 52% do montante total, divididos em 38,3% pela produção de frango e 14,1% pela de ovos. Na sequência, a suinocultura, com 20,7%, e o o setor de bovinos, que representa aproximadamente 19% da produção total.
A FeedLatina criou quatro grupos de trabalho com o propósito de desenvolver projetos para melhorar os resultados na região: técnico, assuntos regulatórios, comunicação e estratégico. “É um novo formato para gerar bons resultados, uma resposta mais rápida e efetiva para o setor”, afirmou o presidente.
BOAS PRÁTICAS De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o setor de alimentação animal no Brasil tem se adequado às exigências de mercado e vem avançando em tecnologias no processamento e fabricação de rações, no sentido de maximizar a eficiência produtiva, minimizar a perda de nutrientes e incrementar a formulação de produtos mais elaborados e com maior valor agregado.
Ainda segundo o ministério, a adoção das boas práticas de fabricação (BPF) nas empresas do setor de alimentos balanceados é requisito básico para assegurar a qualidade em todas as etapas de desenvolvimento de produtos para consumo animal. “Uma fábrica de rações caracteriza-se pela interdependência entre seus setores componentes. Assim, num fluxo que se inicia antes da entrada das matérias-primas na fábrica, é imprescindível estabelecer especificações nutricionais para cada ingrediente a ser adquirido (nível de umidade ou teor de matéria seca), de proteína bruta, fibra, gordura (extrato etéreo) e outros padrões de qualidade na dependência do tipo de matéria-prima.”
Uma inspeção física prévia do ingrediente, incluindo amostragens em produtos a granel e sacarias, deverá incluir exame da presença de impurezas, matérias estranhas, detritos etc. Um nutricionista deve iniciar a formulação estabelecendo os níveis de exigência nutricional para cada fase da criação, indicados para as diferentes linhagens disponíveis no mercado, conhecendo os ingredientes e selecionando-os pela sua composição química (analisada ou calculada), fixando níveis de inclusão de produtos e matérias-primas, e equilibrando a relação custo/benefício.
A moagem e mistura são as etapas finais de extrema importância no processo, objetivando-se adequada homogeneidade e balanceamento. Quanto aos equipamentos e acessórios da fábrica, devem ser adequados para atender ao fluxo operacional e, ao mesmo tempo, objetivando a redução de custos e atendendo prioritariamente à obtenção de alimentos balanceados e sem risco à segurança do produto elaborado final.
Alerta para os aditivos proibidos
A importação e a fabricação da substância antimicrobiana sulfato de colistina – usada como aditivo zootécnico melhorador de desempenho na composição das rações para aves, bois e porcos – está proibida em todo o Brasil desde 2016, mas liberada para tratamento veterinário de doenças.
De acordo com o Mapa, a proibição dessa substância na alimentação animal é baseada nas recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), devido a possível impacto na saúde humana. Segundo a OMS, o sulfato de colistina é uma substância com restrições para a saúde humana. Por isso, após a avaliação técnico-científica dessa substância como aditivo zootécnico e considerando a recomendação da OMS, o uso desse elemento em rações foi proibido.
A médica-veterinária do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) Daniela Cristina Bernardes Silva Lamas alerta os produtores rurais para a proibição de alimentar ruminantes com a “cama de frango” – forragens utilizadas nas granjas – que alguns criadores oferecem como comida para o gado, principalmente em período de seca, quando as pastagens não conseguem suprir a alimentação necessária.
Daniela explica que qualquer alimento que contém proteína e gordura animal coloca o rebanho em risco de adquirir a doença encefalopatia espongiforme bovina (EEB), mais conhecida como “vaca louca”. A doença é caracterizada pela rápida deterioração mental, geralmente dentro de alguns meses. A maioria das pessoas que consome a carne contaminada, eventualmente, entra em coma.
SACRIFICADOS As forragens utilizadas nas granjas, quando retiradas, vêm misturadas a restos de penas, fezes e urina das aves. Essa mistura é liberada para uso como fertilizante, mas alguns produtores a utilizam como alimentação para ruminantes, o que é proibido. Daniela lembra que qualquer proteína infectante detectada pode provocar grandes impactos no comércio internacional de carnes. “Além de ser problema sanitário, é também de saúde pública.” O produtor flagrado terá seus animais interditados e submetidos à coleta de materiais a ser enviados aos laboratórios do Ministério da Agricultura. Em caso de resultados positivos, os animais serão sacrificados na própria propriedade ou abatidos em abatedouros específicos, autorizados para esse fim, com isolamento de materiais de risco.
Exigências para fabricação
Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o processo de fabricação de rações, além do conhecimento da área, implica ter à disposição estrutura para tal. As principais necessidades são: espaço útil na área da fábrica de rações para instalar silos graneleiros, visando à estocagem de cereais; sala de estoque de drogas, aditivos, vitaminas e minerais, a qual sirva também para pesagens de ingredientes que são usados em menores quantidades (abaixo de 10 quilos); balança com capacidade de pesagem de 10 quilos e sensibilidade de um grama; balança de 200 quilos ou mais, com sensibilidade de 20g, para pesagem de cereais; moinho de martelos com motor adequado à trituração de cereais; misturador de ração horizontal ou vertical, com capacidade condizente com a necessidade da produção; roscas sem fim para transporte até a carreta e desta para os silos a granel localizados junto ao aviário.
Fonte: Estado de Minas